Facilitação do Aquário de CSA com crianças coagricultoras

Vivência do Aquário de CSA com crianças coagricultoras

Por @renatanavegar, 27/10/2019

 

A gente olha pra trás e de repente se dá conta que 2020 será o nosso ano comemorativo de 5 anos de Rede de Comunidades que Sustentam a Agricultura no DF. De lá pra cá não só o número de Comunidades cresceu, mas a vida dos nossos agricultores no campo se transformou, a saúde dos agricultores e coagricultores melhorou e a gente vem nutrindo relações entre o campo e a cidade acolhendo a cada dia o desafio que é deixar de ser consumidor para se tornar um coagricultor.

 

Quem nasce em uma família de coagricultores, entretanto, observa a experiência por outros ângulos. Com menos hábitos alimentares arraigados, crianças que vivenciaram as CSA nos últimos 5 anos narram com suas palavras o que representa para elas ter passado a apreciar a rúcula na salada, a cenoura, o  quiabo ou até mesmo a azedinha. Elas contam que antes de participar de uma CSA não comiam esses alimentos, mas depois de começarem a fazer parte de uma comunida que sustenta aagricultura alguma coisa mudou. Perceberam que “o sabor era diferente” e aqueles alimentos eram muito “bem-vindos”, como descreve uma coagricultora de 5 anos da CSA Flor de Lótus.

 

Quando falamos de Cultura do Apreço, muitas vezes não lembramos dos aspectos econômicos que são intrínsecos a ela. Podemos dizer que crianças com vínculos com os agricultores que cultivam os seus alimentos parecem ter mais inclinação a apreciar os alimentos que lhes chegam, sejam eles a rúcula, o maracujá do cerrado ou a azedinha. E assim, vamos reduzindo a cadeia do desperdício desde o planejamento do plantio dimensionado para atender à demanda de produção para um perfil de famílias, até ao melhor aproveitamento no prato por aqueles que irão receber esses alimentos.

 

A cultura alimentar na CSA está intimamente enraizada ao princípio da sazonalidade, que nada mais é do que descobrir o ciclo das plantas e sua relação com os ciclos das estações e dos fenômenos planetários. Ter acesso à abundância de alimentos diversos ao longo do ano para muitos coagricultores é um desafio. Já se sabe entre as crianças que o morango, por exemplo “só dá no mês de agosto” diz uma coagricultora da CSA Barbetta com 6 anos e complementa: “inclusive é o mês do meu aniversário e no meu bolo teve muito morango!”, nota-se como ela dá espaço ao que é especial e positivo na exclusividade da época do fruto ao invés da reclamação de que gostaria que o morango desse o ano todo.

 

Aprende-se a comer repolho, batata doce e brócolis de diferentes maneiras: “refogado com cebola, refogado na manteiga ou assado”, cada uma diz como se faz na sua casa. Aliás, durante a conversa sobre suas experiências no preparo dos alimentos, muitas das crianças poderiam descrever com detalhes como preparam sua própria salada e “sem a ajuda de ninguém”, como enfatizaram. O orgulho da autonomia da criança é nítido e quando partilham as experiências do campo, na casa dos agricultores, trazem no rosto entusiasmo, alegria e até uma certa ousadia. Afinal, para quem já teve a real oportunidade de correr atrás de galinhas para pegá-las no colo na chácara dos seus agricultores, tem uma boa história para contar, como nos contou um coagricultor de 11 anos que está na CSA Barbetta desde os 6 anos de idade.

 

Depois de darem suas opiniões, as mais novas ouviam atentamente as crianças mais velhas, que por sua vez eram ouvidas pelo círculo ao redor formando “O Aquário”, dinâmica de diálogo participativo que favorece uma escuta qualificada tendo o círculo como padrão em rodas concêntricas de conversa. Após rodadas de conversa guiadas por perguntas orientadoras, os participantes estabeleciam novas pontes e conexões entre suas vivências até o momento e sonhos para o futura das suas CSA.

 

Vem mesmo nascendo uma nova geração na Cultura do Apreço. Há muitas mulheres coagricultoras que desde a gestação, passaram pela amamentação e fizeram a introdução alimentar estando em uma CSA. Estamos a cada dia cultivando uma água boa, limpa de agrotóxicos, regenerando o solo e gerando alimentos que chegam às células das novas gerações. Participe de uma CSA. Nossa mudança é da boca para dentro.

 

Sonho que se sonha junto é realidade.

Da Cultura do Preço para a Cultura do Apreço.

 

Renata Navega é articuladora e fundadora da Rede CSA Brasília. Facilita diálogos participativos da experiência em CSA em diversos contextos para promoção da Tecnologia Social de criação de vínculos entre a cidade e o campo. Saiba mais sobre o que são as Comunidades que Sustentam a Agricultura e se inscreva para receber informações antecipadamente sobre o próximo curso de CSA em 2020.